Cheguei a Campinas às seis da manhã. Logo em seguida peguei outro ônibus da Viação Metrópolis para Serra Negra, pela SP-360. Duas horas de viagem por Jaguariúna, Pedreiras, Amparo e finalmente Serra Negra. Região bonita. O ônibus saiu cheio de passageiros da rodoviária de Campinas e em Amparo tinha apenas quatro pessoas. Perguntei a um homem que disse ser dono de loja de chinelos personalizados em Serra Negra se ele conhecia Zé Roberto. Ele disse que não. Outro, chamado Valdomiro, disse que sabia quem era. E disse que ele sempre aparecia na padaria perto da rodoviária para tomar o café da manhã. Ele prometeu me ajudar quando chegasse. “Se você não achá-lo por lá, eu tenho um amigo jornalista, que pode dar informações sobre ele. Alguma coisa você vai ficar sabendo”, disse. Aquilo já era uma boa notícia. Se não encontrasse o jogador, poderia voltar com alguma coisa embora não soubesse que coisa fosse.

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Chegamos a Serra Negra um pouco antes das nove horas. Cidade bonita, pacata, pequena e limpa. Desci. A Rodoviária fica na Avenida 23 de Setembro. E fui com o Valdomiro em direção da padaria a cem metros da rodoviária. Andei dez metros e na esquina vejo um senhor magro, meio encolhido numa blusa de frio onde se lia a seguinte inscrição: “The Last Dragon Revolutionary”. A manhã era fria, mas um sol agradável começava a cair sobre a cidade. Ele estava de calça cáqui e sapatos pretos. Aparentava serenidade e caminhava sem pressa. Quieto e alto. Olhei e o reconheci.

Eu disse: “Zé Roberto!”.

Ele olhou: “Sim!”.

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Arrematei para impressionar: “Um dos maiores jogadores brasileiros dos anos 60 e 70!”.

Ele disse: “É o que dizem por aí”.

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Então cumprimentei, me apresentei e disse: ‘Eu gostaria de conversar com você. Eu vim aqui para isso’.

Ele disse: “Então vamos conversar, Edilson!”.

Ele disse que vinha da padaria e estava indo encontrar alguns amigos. Ele disse: “Vamos sentar naquela mesa na frente da banca de meu amigo, que tem um solzinho bom. E a gente conversa sobre o que você quiser”. E conversamos por mais de duas horas. Ele foi atencioso, foi uma conversa boa, embora ele não seja do tipo prolixo. Todas as respostas, ele começava com um: “Sabe, Edilson…”. E contava a sua versão de sua história, dos craques com quem jogou, enfim, fragmentos da história de um craque. De um tipo de craque cada vez mais raro.