No dia 10 de março de 1974, domingo, o Clube Atlético Paranaense fez estreia na primeira fase do Campeonato Brasileiro no estádio Belfort Duarte. Era a segunda participação do rubro-negro na competição nacional, da forma como ela veio a ser conhecida. O Atlético procurava goleiro desde janeiro. Os citados eram Joel Mendes, do Santos, Wanderley e Nascimento. O time contratou o técnico Waldemar Carabina, que decidiu apostar no goleiro da casa, que alternava reserva e titularidade. Altevir Guilhem de Sales, 1m87. Carabina descobriu que o ex-goleiro do Palmeiras, Valdir de Moraes, fez curso para treinar goleiro na Alemanha – novidade na época – e foi conferir o negócio.
Carabina conversou com Moraes em São Paulo, voltou para Curitiba e disse para Altevir. “Se você se esforçar, pode se dar bem. E pegar a posição”. O goleiro treinou com Carabina e foi para o jogo: mas a diretoria ainda procurava um nome famoso. Afinal, Altevir era goleiro da casa. E, como todo mundo sabe: santo de casa não faz milagre. O adversário era o Internacional dirigido por Vicente Minelli, com Figueroa, Falcão e companhia – heptacampeão gaúcho e ganharia o oitavo título naquele ano. Era parada dura. “Era o jogo da minha vida. Eu estava com 25 anos”, diz Altevir, que nasceu em Curitiba no dia 21 de agosto de 1948 e foi revelado pelo Operário das Mercês em 1965.
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Altevir no gol do Atlético Paranaense: símbolo de garra e categoria. |
O Atlético não tomou conhecimento do Internacional. Ganhou de 1 a 0 e podia fazer mais. Gol de Sicupira aos 26 minutos do segundo tempo. Na realidade, quem fez a jogada foi Caio que passou por dois adversários e quando o terceiro chegou, ele serviu Nilson, que deu de bandeja para Sicupira. O atacante escolheu o canto que quis e mandou para o fundo das redes do goleiro Schneider. O juiz Oscar Scolfaro apontou o meio do campo. Enquanto os atleticanos comemoravam o tento, o Internacional alegava qualquer irregularidade, que não houve.
O Internacional foi para cima e a única coisa que conseguiu fazer foi com que Altevir “evidenciasse a sua categoria”, porque o “goleiro esteve numa tarde inspiradíssima”, como revelou a Tribuna no dia seguinte. O jornal definiu assim a atuação do goleiro: “Magnífico. Tranquilizou o time fazendo intervenções que mereceram os aplausos da torcida presente no Alto da Glória”. O goleiro recebeu a maior nota concedida aos melhores da partida, juntamente com Liminha, Caio e Almeida: oito. “Este jogo decidiu a minha carreira. Era a minha chance. Eu a procurava fazia tempo. Se fosse bem, ia em frente. Se não fosse, complicava”, diz ele. Altevir pegou a chance pelas unhas. “Fiz a melhor partida de minha vida. Fiz três defesas muito difíceis”, diz. Altevir conquistou o que mais queria na vida – a titularidade no Atlético, que além de ser time de expressão, era também o time para o qual ele torcia. “Eu e o meu pai, Lauro, torcíamos para o Atlético”, diz ele.
Do Britânia para o Guarani
Mas até chegar a ser titular do Atlético Paranaense, Altevir teve que ralar muito. Ele lutou por um lugar ao sol. A carreira começou há nove anos quando se destacou no Operário das Mercês, clube amador de Curitiba, de onde ele saiu em 1965 com 16 anos, para jogar no juvenil do Britânia, pelo qual foi bicampeão da categoria. Dois anos depois ele estreava no futebol profissional. “A minha atuação e a de meus companheiros no Britânia chamou a atenção do Guarani de Ponta Grossa que levou cinco jogadores para disputar o campeonato paranaense da segunda divisão”, recorda ele. O time foi bem, chegou na final contra o Operário, rival da cidade, que levou o título.
Em 1970, Altevir foi contratado pelo Coritiba para ser o terceiro goleiro – atr&aacut,e;s de Célio e Carvalho. E, no ano seguinte, o Cascavel comprou o seu passe. “Eu cheguei numa sexta-feira, treinei depois do almoço e no domingo estava jogando”, lembra ele. Sua estreia foi justamente contra o Atlético Paranaense no dia 24 de janeiro de 1971. “Fizemos uma boa partida. Seguramos o Atlético o tempo todo. Mas no final o Sicupira fez um gol de falta”, diz ele. A boa participação rendeu convite para jogar no Grêmio de Maringá na segunda parte do campeonato. Depois ele voltou para o Cascavel e em setembro foi comprado pelo Atlético Paranaense.
“Quando eu cheguei no Atlético, o goleiro era o Picasso, que foi do São Paulo. Depois eles contrataram o Gainete, depois o Nascimento, depois o Neuri. E eu esperando a minha chance, que nunca chegava”, diz ele. E quando chegou, Altevir não largou. Depois da partida contra o Internacional, o Atlético fez boa campanha no Brasileiro de 1974.
Em família
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Altevir começou de centroavante, mas acabou sucumbindo ao que parece ser uma sina da família: a de produzir goleiros. Uma dinastia que começa com Lauro (deitado, na foto), pai de Altevir, que jogou no Operário. E foi no time alviverde das Mercês, que ele também começou a carreira. Até por acaso, porque um dia precisaram e foi aí que ele se destacou. Os filhos do ídolo atleticano, Christopher e Fredy, também foram goleiros. O primeiro jogou nas categorias de base do Atlético e hoje integra o staff do treinador Caio Junior como treinador de goleiros e o segundo jogou no Iguaçu de Santa Felicidade.
A bola rola
Depois que parou de jogar, Altevir não largou a bola. Foi treinar times amadores. Foi campeão com o Vila Hauer em 1995 e com o Laranja Mecânica de Campo Largo em 2011. Com o Laranja, ele ainda chegou às finais de 2012 e 2013.
Primeira partida
Depois de fazer quatro partidas no segundo quadro, o técnico do Operário das Mercês escalou Altevir no time principal, num jogo contra o Iguaçu, em Santa Felicidade. Foi em 1965. A partida terminou empatada em 2 gols.
Campanha
A campanha do Atlético no Campeonato Brasileiro de 1974 pode ser considerada até muito boa: em 24 jogos, 11 vitórias, 7 empates e apenas 6 derrotas. Ficou em nono lugar. “Só não fomos para o quadrangular final porque perdemos no saldo de gols para Inter”, diz Altevir. Ele agarrou a chance e foi o goleiro que mais jogou pelo Atlético nos anos 70.
Na hora certa
Em 1986, com 35 anos, Altevir tinha tudo encaminhado para jogar pelo CSA de Alagoas, time dirigido por Valdemar Carabina, com quem Altevir tinha jogado no Atlético. Mas aí surgiu o convite para trabalhar na Gerdau. Ele parou a carreira de jogador. ‘No começo foi difícil, mas foi uma coisa boa para mim e para a família. E o conhecimento e amizades que fiz no futebol me ajudaram bastante nesta nova atividade‘, diz ele.
Últimos lances
Em 1983, Altevir defendeu a Francana de São Paulo. Além de goleiro, ele começou a ser treinador da equipe. Ele ainda jogou pelo Orlândia e em 1985 voltou ao Botafogo de Ribeirão Preto. Mas aí, voltou para Curitiba e encerrou a carreira.