Quando nasceu, no dia 10 de outubro de 1946, o pai do garoto não sabia que nome colocar no filho. Foi no calendário pendurado na parede em busca de inspiração. Os calendários antigos tinham nomes de santos, mas o velho encontrou um chamado Aladim. Se era nome de santo ou se era o Aladim da lâmpada maravilhosa numa ilustração, até hoje não se soube. Mas se sabe que o pai achou o nome bonito e batizou o filho de Aladim Luciano. Nome de gênio – Luciano era sobrenome. E o garoto, de certa forma, precisou de genialidade para sair de Barra Mansa e virar grande jogador de futebol. Contou também com a sorte, pois a vida sem sorte não leva ninguém a lugar algum.

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Antes da sorte, porém, Aladim precisou suar. O suor começou pouco antes dos 16 anos quando resolveu treinar num clube do Rio de Janeiro. Ele levantava às 4h30, ia a pé até um lugar chamado Ponte Coberta, onde pegava ônibus até Campo Grande, de onde pegava trem até Bangu, onde chegava às 9h para treinar no time de Moça Bonita. Foi assim durante três meses, até que passou nos testes e arrumou alojamento para ficar. Entrou para o Bangu por conta da intimidade com a bola. Aí, teve sorte: o Rio de Janeiro tinha outros times mais famosos, cheios de títulos, de torcida e de glórias, mas Aladim, sem saber, estava entrando na base do melhor Bangu de todos os tempos. Um dos melhores times do Rio de Janeiro naqueles anos 1960.

Era um Bangu que tinha Paulo Borges, Fidelis, Ari Clemente, Cabralzinho e Ladeira. Além dele, Aladim, claro. Um time que disputou quatro finais seguidas do Campeonato Carioca. Ganhou uma e foi vice em três. Era preciso bola e sorte para acontecer uma coisa desta. A história de Aladim no futebol começa assim: “Disputei os campeonatos juvenis de 1963 e 1964. Em 1965, disputei algumas partidas pelo profissional. Na oitava rodada do Campeonato Carioca de 1966, ganhei a condição de titular. Isto foi em março”, recorda.

Em quatro temporadas, Aladim campeão em uma (1966) e vice em três (1964, 1965 e 1967) sem contar que em 1963 tinha ficado em terceiro lugar. A melhor posição antes disso tinha sido um vice-campeonato em 1951. “A base do time foi construída nos juvenis. Eu me lembro até hoje daquele time: Ubirajara; Fidelis, Mario Tito, Luiz Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Cabralzinho, Ladeira e Aladim”, recita. “Quando a gente foi campeão carioca em 1966, o Ocimar tinha 34 anos e eu tinha 20 anos”, completa.

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Do Bangu pro Coxa

Arquivo
Aladim (dir.) no Bangu: melhor fase do time carioca.

A final do Campeonato Carioca de 1966 contra o Flamengo no dia 18 de dezembro. Quando o Bangu foi campeão, em seguida começou a declinar. O desmonte iniciou com a venda de Paulo Borges – seu mais valioso atacante e cobiçado por diversos clubes – para o Corinthians. Em 1970, chegou a vez de Aladim ser vendido. Assim como Paulo Borges, ele também foi para o Corinthians. No final de 1972, o Timão não renovou com Aladim. Foi quando surgiu a oportunidade de vir para o Coritiba. Ele veio sem muita convicção sem saber que se tornaria um dos principais ídolos do clube.

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Padaria

Allan Costa Pinto
Aladim em sua padaria: de pãozinho em pãozinho, ele chegou na política.

“Quando eu encerrei a carreira, a primeira coisa que eu fiz foi viajar para esfriar a cabeça. Quando eu e minha mulher voltamos, em março de 1985, o Evangelino da Costa Neves me ofereceu o juvenil do Coritiba para treinar, mas a remuneração era muito pequena. Disse para a minha mulher que precisávamos pensar em alguma coisa. A primeira ideia ,que tivemos foi a de colocar uma escola infantil, porque minha mulher é professora. Mas o retorno do investimento ia ser muito demorado e incerto. Partimos para outra coisa. Pensamos em colocar uma loja de esportes, mas o Dirceu, aquele que foi do Coritiba e da Seleção brasileira, tinha colocado uma loja de esportes e fechou no mês seguinte. Naquela época, o Fedato era o nome forte em lojas de materiais esportivos. Eu pensei: se o Dirceu, que é daqui e foi da Seleção, não conseguiu se dar bem, então vai ser um ramo bem complicado para mim e para qualquer outro. Eu tinha um amigo que era da dona de uma padaria, a Guths, na Alberto Foloni, e eu ia sempre lá comprar pão. Ele falava bem da atividade. Ele tinha prazer em ser padeiro e fazer aquelas coisas que a gente gostava. Eu ficava admirado de ver o movimento da padaria e ele me disse que era um bom ramo. Então pensamos em entrar no ramo da padaria. Era um negócio que não saía caro e resolvemos entrar nele em março de 1985. Estamos até hoje nele. Eu fico aqui na padaria. Atendo no balcão.”

Política

“Eu entrei para a política quase por acaso. O Nivaldo Carneiro, que jogou no Atlético e no Coritiba, apareceu aqui na padaria por volta de 2004 para eu me filiar ao PDT. Alguns dias depois, três conhecidos que eram do PV apareceram aqui para eu entrar no partido. Eu disse que não podia porque já tinha assinado a ficha com o PDT. Eles disseram que poderiam dar um jeito de cancelar se eu quisesse entrar para o partido. Depois me pediram para sair candidato. Eu nem sabia como fazer campanha. Fui beneficiado pelos amigos que fiz no futebol e também com os amigos. Estou no terceiro mandato.”

Lenda Viva

Pra Aladim, o grande problema do Corinthians, entre os anos 1950 e 1970, foi que clube tinha excesso de craques.