Para o grupo, ele era Bagaço, um cara bacana. Dentro de campo dava conta do recado e fora de campo não arrumava treta. A verdade é que quem viu Bagaço em campo, com a camisa tricolor, tem saudades. Ele jogava muito, o time era campeão. Naquele tempo, o Paraná Clube deitava e rolava. Os primeiros e melhores anos do tricolor foram uma festa de arromba. E Bagaço era o cara do time. Para a torcida, ele era apenas o Adoilson, dono da camisa 8. Para muitos torcedores, ainda hoje, ele foi o maior jogador do clube. Parodiando as ciganas, os números não mentem.
Adoilson foi o segundo maior artilheiro do time de Vila Capanema, um dos primeiros a assinar contrato com o clube, fez 241 jogos, 78 gols, cinco anos, quatro títulos (os estaduais de 91, 93 e 94 e o da Série B de 92). Até hoje os mais velhos abrem um sorriso só de lembrar aqueles tempos. Mas aqueles tempos ficaram para trás e Adoilson com justiça entrou para a restrita galeria dos grandes jogadores que passaram pelos campos de futebol de Curitiba. Um dos maiores jogadores dos anos 90. O cara que fez história e deixou saudade.
Batendo bola na rua
O caminho que trouxe Adoilson Costa para o Paraná Clube no início dos anos 90 foi longo e começou nas ruas de Presidente Epitácio, interior de São Paulo. O garoto nascido no dia 13 de setembro de 1964 começou a jogar bola na rua e nos campinhos baldios. Foi ali que ele começou a se destacar. A versatilidade mostrada nas partidas e peladas chamou a atenção do Beira-Rio, um time juvenil. Foi o seu primeiro time. Estava com 15 anos. Mas dali para frente, as coisas começariam a acontecer com maior rapidez. ‘Eu não tinha base nenhuma. Tudo o que eu sabia eu aprendi na rua’, relembra hoje. Aprendeu e foi útil porque do Beira-Rio ele pulou para o Rio Branco, onde jogou poucas partidas e se profissionalizou aos 16 anos.
Quatro anos depois estava no Corinthians de Presidente Prudente, que disputava a Divisão Intermediária do Campeonato Paulista no final dos anos 70. Ficou no time de 1985 a 1987, ano em que foi para o Corinthians de São Paulo. Quando ele chegou, viu que não ia ser fácil ganhar posição. ‘Só tinha cobra. Tudo nível de seleção brasileira. O goleiro era o Waldir Peres e na minha posição tinha Biro-Biro e o Jorginho, que tinha jogado pelo Palmeiras’, recorda. O negócio era esperar uma chance no banco de reservas. O meia-direita fez apenas dois jogos pelo time de Parque São Jorge. E o mais difícil era aparecer uma nova chance. Ninguém dava bobeira.
Mas Adoilson não queria esquentar banco, queria mostrar o seu futebol. Nesta altura de sua carreira, ele preferia ser titular em time de menor expressão, ainda que no interior, que ser reserva em time grande. ‘Quando apareceu o Grêmio de Maringá interessado em meu futebol, isto em 1988, eu estava com 24 anos. Não pensei duas vezes. Acertei e me saí muito bem no time do Grêmio’, diz ele. Adoilson virou ídolo da torcida maringaense logo nas primeiras partidas. Aquele jogador destro, magro e alto (1m79) era habilidoso e fazia gols. Conquistou a torcida de imediato e ouviu seu nome gritado nas arquibancadas do estádio Willie Davids. Mas, ainda, assim, deixou Maringá e foi para o 15 de Novembro Piracicaba. E no ano seguinte, em 1989, voltou para o Grêmio de Maringá. Mais uma vez. E, mais uma vez, se destacou. A sua vida começou a mudar em 1990, quando ele ficou sabendo que o Paraná Clube estava formando um esquadrão de craques. E o time estava de olho em seu futebol. Adoilson foi quinto jogador a ser contratado pelo novo clube que se formava na capital montado nos patrimônios de Colorado e Pinheiros. Estava começando uma longa e vitoriosa história no tricolor.
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Adoilson foi muito bem reco,mendado por Carlinhos Neves. |
Mudança de rumo
A passagem de Adoilson pelo Grêmio de Maringá não apenas serviu de vitrine para seu futebol, como também o colocou na frente de uma pessoa que acabou sendo de importância em sua trajetória profissional. O preparador físico Carlinhos Neves, atualmente no Clube Atlético Mineiro, estava acompanhando a fusão entre Colorado e Pinheiros. Carlinhos percebeu que em Curitiba ia surgir um time forte e bem assentado financeiramente. Ele estava nos planos da nova equipe e tratou de colocar o meia-direita no mesmo caminho. ‘Quando surgiu o Paraná e me procuraram, não pensei duas vezes’. Adoilson chegou a Curitiba como o jogador número cinco da história do Paraná Clube. Antes dele foram contratados os meias Pedrinho Maradona e Marquinhos Benato, além do ponta Sérgio Luís e do zagueiro Wagner. O Grêmio recebeu 600 mil cruzados novos mais os passes do zagueiro Índio e do meia-direita Telvir.
A mudança de clube do interior para o clube da capital animou o jogador. As instalações do Grêmio de Maringá no Brinco da Vila eram modestas se comparadas com as do Paraná Clube em Curitiba. ‘A estrutura do Paraná era boa, o time estava contratando bons jogadores e eu tratei de buscar meu espaço. No final, as coisas acabaram dando certo. Foi o começo de uma bela história no Paraná’, diz ele. Adoilson fez sua estreia na estreia do tricolor no dia 4 de fevereiro de 1990, contra o Coritiba, no Couto Pereira. Vitória Coxa por 1 x 0. Na partida seguinte, o Paraná venceu por 1 a 0 e Sérgio Luís marcou o primeiro gol do novo time. ‘Ele entrou para história. Era um grande ponta-direita. Cruzava como ninguém’, recorda Adoilson. Na terceira rodada, contra o Londrina, no Estádio do Café, Adoilson fez o seu primeiro gol com a camisa tricolor num empate pela contagem mínima.
Neste primeiro ano, o Paraná Clube, dirigido pelo experiente Rubens Minelli, aplicou goleadas históricas e Adoilson recorda de ter marcado três gols contra o Paranavaí e dois contra a Platinense, cinco gols em dois jogos. O Paraná Clube foi campeão estadual e na Série C subiu para a Série B. ‘Por pouco não fomos campeões. Acho que o Minelli demorou para fazer ajustes necessários num time de tinha excesso de jogadores’, diz Adoilson. Como o time tinha oito meias, ele começou a jogar de centroavante. Ele estranhava jogar nesta posição. ‘Eu pedi para o Minelli me deslocar para minha posição de origem. Se ele quisesse, podia me botar no banco, mas não queria atuar fora de minhas características’, diz ele. E, assim, ele voltou a jogar como meia-direita.
No ano seguinte, 1991, Minelli foi embora e em seu lugar veio Otacílio Gonçalves, o Chapinha. O Paraná Clube contratou mais reforços, como Saulo e Serginho. O time que era bom ficou melhor. ‘A gente não desmerecia ninguém, mas sabia o time que tinha, que era um time vencedor. O técnico nem precisava fazer preleção, todo mundo sabia quem ia para o jogo e o que era para ser feito. Ele entregava as camisas e a gente fazia o resto’, diz ele. E no dia 8 de dezembro de 1991, depois de um empate no Couto Pereira em 1 x 1, o segundo título estava no papo. ‘Nós chegamos a um patamar que sabíamos que íamos entrar em campo e vencer’, recorda Adoilson, que hoje mora em Maringá.
O Paraná Clube disputou a Série B em 1992 com uma bela campanha. Treze vitórias, quinze empates e apenas duas derrotas. Ao fim da competição, era o campeão, apesar dos esforços dos cartolas gaúchos de virar a mesa para o Grêmio de Porto Alegre retornar à divisão de elite. ‘Jogamos várias vezes e sempre fomos os melhores. Ganhamos o campeonato mesmo com os gaúchos querendo subir o Grêmio a todo custo’, diz ele. O momento alto da competição foram as duas partidas contra o Vitória – o time de Vila Capanema atropelou nos dois jogos. ‘Foram duas partidas incríveis. Eles tinham um bom time. No primeiro jogo ganhamos por 2 x 1, com dois gols meus. Poderíamos ter goleado’, recorda. ‘No jogo de volta, com a Fonte Nova lotada, o Paraná encarou os baianos e venceu por 1 x 0, gol de Saulo’, lembra ele. O time foi aplaudido de pé pela torcida adversária.
Uma peleja histó,rica
Esta foi uma das partidas memoráveis da carreira do meio-campista. ‘Em Salvador, os jornais, televisão, torcida, todo mundo só falava no jogo. Claro que eles acreditavam que podiam reverter o resultado. Nós estávamos no hotel e o Otacílio reuniu todo mundo e disse apenas isso: Eu agradeço a todos vocês por me fazerem campeão mais uma vez. Eu nunca gostei de preleção, queria ir logo para o jogo. Mas o Otacílio sabia motivar o grupo. Não era um cara chato, dizia pouca coisa, mas as palavras certas. Era um cara incrível’, diz ele. Era tão incrível que ao fim da competição o Palmeiras chegou em Curitiba e levou Otacílio para São Paulo. E o Paraná foi treinado no estadual daquele ano por Mário Juliato, que não conseguiu o tricampeonato.
Mas o título veio no ano seguinte, em 1993, com uma campanha de 20 vitórias, nove empates e apenas duas derrotas. Foi campeão com uma rodada de antecedência. Foi até fácil. O Paraná Clube estava virando o bicho papão do Paraná. ‘Para o interior não havia mais o Atlético e o Coritiba. Era o nosso time’, recorda. Dos 31 jogos daquele ano, Adoilson escolhe a vitória de 1 x 0 sobre o Atlético com um gol de voleio e João Antonio, como a partida mais especial. ‘Ele saiu carregado de um treino e todo mundo pensava que ia precisar fazer cirurgia, mas fez trabalho intensivo, foi para o jogo e fez aquele gol. Foi merecido’, diz.
Na elite
Ainda em 1993, o Paraná Clube foi para a Série A. Enfrentou os melhores times do Brasil de igual para igual. ‘Não tínhamos medo. Íamos para cima, mesmo’, recorda. O tricolor aplicou goleada de 6 x 1 na Desportiva do Espírito Santo. Olhando retrospectivamente, Adoilson acha que se fosse hoje, talvez achasse melhor o time atuar com mais cautela para chegar mais longe que o 10.º lugar. No ano seguinte, o Paraná Clube foi mais uma vez campeão paranaense. E para comemorar a conquista, o tricolor enfrentou o Deportivo La Coruña, que foi o vice-campeão espanhol da temporada que se encerrava. A partida foi disputada no dia 12 de junho de 1994, no Couto Pereira. O time galego veio com Bebeto e Mauro Silva, jogadores da Seleção Brasileira. ‘Fomos para cima. Ganhamos por 2 x 0. Fiz um gol e sofri um pênalti que deixei para o Nei Junior bater’, diz ele. Uma vitória espetacular, ainda que o jogo fosse amistoso. Afinal, quando a bola rola, todo jogo é jogo.
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Adoilson brilhou ainda no Vitória. |
Novos ares no futebol baiano
Quando a temporada de 1994 chegou ao fim, Adoilson foi embora para a Bahia, defender as cores do Vitória. A vida estava boa, a torcida gostava dele, o Paraná Clube tinha estrutura muito boa e, além disso, todo dia 5 o pagamento caía na conta, coisa que não acontece em todos os clubes. Ele foi embora e carregou o tricolor no coração: ‘Tudo o que eu tenho na vida devo ao Paraná. Se tenho condições de sustentar minha família, foi graças ao Paraná Clube. Gosto muito do Vitória, mas meu sentimento pelo Paraná é muito maior. Tenho os meus gols gravados e sempre assisto com meus filhos e amigos. Mostro-os sempre com orgulho’, diz.
Adoilson foi atrás de novos desafios e deu conta do recado. Foi tricampeão baiano, virou ídolo da torcida. No Vitória, Adoilson fez muitas partidas antológicas. Uma delas foi no dia 9 de julho de 1995, no Barradão, quando o rubro-negro enfrentou o Grêmio de Porto alegre, que era campeão da Libertadores e se preparava para disputar o Mundial de Clubes no Japão. O time era dirigido por Luís Felipe Scolari, o Felipão, atual técnico da Seleção Brasileira. O time baiano era dirigido por Péricles Chamusca e chamuscou o tricolor gaúcho por 2 x 0, um dos gols marcado por Adoilson. ‘Eles tem um carinho grande por mim’, diz ele.
O jogador ficou no Vitória até 1997. Ele fez 105 jogos e 39 gols pelo Vitória. Foi campeão baiano duas vezes e artilheiro de 1996, com 14 gols. Ele conquistou a torcida do time baiano assim que chegou ao clube por ser em 1995 o jogador do Vitóri,a que mais gols fez no clássico Ba-Vi – cinco gols. Seu último jogo pelo Vitória foi num Ba-Vi, no dia 23 de fevereiro de 1997, com mais de 87 mil pessoas na Fonte Nova, o terceiro maior público do clássico em todos os tempos. O Vitória ganhou por 3 x 0. Um detalhe: enquanto jogou pelo Vitória, nunca perdeu para o Bahia, o grande rival do rubro-negro.
O professor Marcelo Lopes Monteiro, torcedor do Vitória, define Adoilson como um jogador que tinha muita moral com a torcida, praticava um futebol solidário, fazia belas assistências e bonitas jogadas no meio campo, um jogador diferenciado. Ele não era fominha, nem mascarado, mas um líder em campo que comandava o meio campo com maestria. Num site de torcedores do rubro-negro baiano ele é definido como ‘o meio campo que faz falta’.
Política Adoilson ainda passou pelo Internacional de Limeira em 1998 e jogou pelo Londrina. Mas a sua carreira estava chegando ao fim. E quando ela terminou, ele voltou para Maringá. Hoje ele atua como técnico de uma escolinha de futebol. Em 2012 ele foi candidato a vereador pelo PT. Usou o número do partido e três vezes o número da camisa quando jogava no futebol: 13.888. Mas não se elegeu. Fez 264 votos e ficou na suplência.