Ela fez parte da geração que deu um grande salto na ginástica brasileira. No ano 2000, Camila Comin foi uma das duas atletas brasileiras nas Olimpíadas de Sidney, na Austrália. Quatro anos depois, nas Olimpíadas de Atenas, ela conseguiu honroso 16º lugar na classificação geral individual, atrás da compatriota Daniele Hypólito, em 12o lugar. Na história destes êxitos o esforço e a vontade pessoal tem lugar de destaque. E vontade foi o que Camila sempre teve. Esta história começa em São Paulo onde a ginasta nasceu no dia 31 de março de 1983 e onde morou até cinco anos.
Na capital paulista, ela começou a praticar balé na escola e natação. Foi na escola que descobriu a vocação para a ginástica. “Eu posso dizer que no balé, em vez de praticar eu ficava me pendurando nas barras para me balançar. A professora viu aquilo e falou para a minha mãe que eu estava no lugar errado, que ela deveria me colocar para fazer ginástica. Eu acho que a ginástica já estava no meu sangue”, confessa Camila que hoje mora Estados Unidos. Se ela nasceu em São Paulo, a ginástica nasceu para ela em Curitiba. “Aos cinco anos eu me mudei para Curitiba e comecei a fazer ginástica na Praça Oswaldo Cruz. Foi na praça que a ginástica me conquistou cem por cento”, diz ela.
Foi na Praça Oswaldo Cruz, onde começou aos cinco anos, que ela viu a possibilidade de ter futuro na modalidade, “embora eu soubesse que não seria fácil pelas dificuldades de aparelhos, professores e investimento no esporte”. Neste período, que prolongaria por grande parte da carreira, as despesas eram bancadas pelo “paitrocínio”. “Foi o meu pai quem bancou tudo por um longo período de minha carreira”, diz Camila. Os resultados no ginásio não demoraram a aparecer. Em sua primeira competição oficial, nos Jogos Escolares em Campo Mourão, em 1991, ela conquistou medalha de ouro sobre o cavalo.
A primeira medalha ninguém esquece. “Eu me lembro como se fosse hoje. Eu tenho esta medalha guardada até hoje como se fosse uma medalha olímpica”, diz ela. A partir daí vieram outros campeonatos. “Eu fui campeã paranaense, campeã infantil, campeã juvenil e campeã adulta”, recorda. Com treze anos, estava na Seleção Brasileira. “Foi outro obstáculo superado. Agora eu ia representar o Brasil. Tudo isto mostrava que eu estava no caminho certo”, diz ela. E os resultados continuaram. Camila foi campeã panamericana, campeã sul-americana juvenil e adulta. Os resultados apareciam e os treinamentos continuavam cada vez mais intensos.
Apesar dos treinamentos duros e dos resultados positivos, a modalidade continuava sem patrocínio. “A ginástica nunca foi um foco bom para isso”, diz ela. A conta quem pagava era o velho “paitrocínio”. “Meu pai ainda era a pessoa que acreditava no meu talento e me apoiava duzentos por cento”, diz ela. “Sem contar a minha mãe, que era quem preparava a comida que eu precisava para a prática esportiva”, acrescenta. E assim, Camila Comin foi escrevento com leveza e muita garra um capítulo da história da ginástica brasileira, porque, como ela mesmo diz, “o Brasil nunca tinha ganhado estas competições antes”.
Inesquecível
“A minha competição inesquecível? Cada competição tem seu ponto forte. Mas foi Sidney. Quando eu entrei no ginásio de competição quando eu vi aquilo tudo azul. Eu tinha sonhado isto há muitos anos atrás. O sonho meu era entrar nas Olimpíadas. Quando eu vi o ginásio de competição eu falei: será que isto é verdade, será que eu não estou sonhando? Foi um momento em que valeu tudo a pena. A estreia, o choro, as dores. As competiçõ,;es e as dificuldades, sem ter dinheiro para viajar. Valeu muito, muito a pena. Se eu tivesse que fazer isto de novo, eu faria novamente. Só no final é que a gente dá valor a isso”.
Na história
“Depois de Sidney, foi Atenas, onde a gente levou uma equipa completa. Eu peguei final entre a geral. E final por equipe. E você ficar entre as 24 melhores do mundo foi um resultado muito grande. Para mim, pra minha família e pro meus amigos. Cada um tem seu ponto na história e eu acho que eu escrevi o meu nome na ginástica. Eu sou muito agradecida e orgulhosa do que eu fiz.”
Nas paralelas
“Eu sempre tive mais destaque nas paralelas. Eu não gostava muito e acabei pegando gosto. Por ser pequena, por ter um domínio nas mãos muito grande. Eu era muito explosiva. Digamos que na ginástica eu fui muito completa. Eu era muito estável. Tinha uma média nos aparelhos muito grande. Isso ajudava muito na equipe. Eu não era especialista num aparelho só. Eu me destacava nas paralelas, no solo também, no salto um pouco menos, mas tive sempre uma média. Uma média nove para uma equipe está muito boa. Eu sempre gostei das paralelas porque não é um momento em que a gente tem uma explosão, é uma continua harmonia numa dinâmica muito grande”.
Sou grata…
“Várias pessoas me incentivaram e me ajudaram na carreira. No começo, na Praça Oswaldo Cruz, foram duas pessoas: a Nara Marcondes e Daysi Mercer, que me ensinaram a primeira estrelinha e o primeiro mortal. Depois eu fui para o Sala Paranaense e encontrei o Roni Pereira e a Elaine Martins, ela era juíza uinternacional e ele era coreográfo e preparador físico. Eles me acompanharam por bastante tempo. Foram eles que começaram a me ensinar as técnicas mais dificeis. Posteriormente, em 1999, veio a primeira russa que treinou a Seleção Brasileira, a Iryna Ilyashenko. E a partir da chegada dela foi que eu tive a grande evolução na minha ginástica. Não posso deixar também de mencionar o técnico Oleg Ostapenko e sua mulher Nadijia Ostapenko. que vieram para modificar a ginástica do Brasil. Foi com a ajuda deles que fez com que o Brasil tivesse uma grande evolução”.
Circo começou a entrar na vida de Camila Comin nos jogos de Sidney