Imagine ter manchas brancas pelo corpo, que geralmente não doem ou coçam, mas que não passam despercebidas pelos olhares curiosos das pessoas. Quem tem vitiligo, uma doença de pele caracterizada pela falta ou pela diminuição das células que produzem a melanina, pigmento que dá cor a nossa pele, sabe o que é passar por isto. Segundo especialistas, ainda que em diferentes graus de intensidade, a doença acomete cerca de 1% a 4% da população da população mundial, podendo afetar pessoas de variados biótipos e tons de pele.
De acordo com a médica dermatologista Annia Cordeiro Lourenço, o vitiligo é uma doença causada por uma falha do sistema imunológico do paciente, geralmente em função de uma predisposição genética. “É uma doença autoimune, que também é comum estar associada a fatores externos, como uso de produtos químicos, exposição ao sol em excesso e sem proteção e outras doenças do sistema imunológico”. Além destas causas, problemas emocionais também podem estar entre os fatores que provocam o surgimento ou o agravamento da doença.
As lesões, que podem ter tamanhos variados, podem aparecer em somente um lado do corpo (vitiligo segmentar) ou no corpo todo (não segmentar), sendo comuns no rosto, braços, cotovelos, joelhos, mãos, pés e até nas regiões genitais. Para confirmar se uma mancha é vitiligo, o indicado é procurar um médico dermatologista. “O vitiligo tem um diagnóstico fácil, feito por meio de exame clínico e também, se necessário, com biópsia da pele afetada e de uma área para comparação”, explica a dermatologista.
Com o diagnóstico confirmado, a médica diz que o tratamento passa pela utilização de medicamentos como os psoralênicos e os retinoides via oral, associados ao ultravioleta, creme imunomoduladores e laser. “Também há estudos que demonstram bons resultados em cirurgias com enxertos pequenos e superficiais, de pele removida de outra área do próprio paciente”.
Se o vitiligo não traz prejuízos para a saúde do paciente, por outro lado, os efeitos estéticos da doença são tão significativos que nem as celebridades conseguem disfarçá-los. Um dos casos de vitiligo mais conhecidos foi o do cantor Michael Jackson, que atribuía à doença as mudanças na cor da sua pele, que, com o passar dos anos e o crescimento das manchas, passou de negra para branca. Outra personalidade com vitiligo é a jovem modelo canadense Chantelle Brown-Young, de 19 anos, que foi diagnostica com vitiligo aos quatro anos de idade, mas hoje encanta o mundo da moda, quebrando preconceitos com sua beleza fora do convencional.
Prejuízos emocionais
Apesar de não ser contagioso e não trazer prejuízos à saúde física, o vitiligo costuma trazer problemas, principalmente sob o aspecto emocional, relacionado com a autoestima e identidade pessoal. Para a psicóloga Talita Mazziotti Bulgacov, doenças como o vitiligo podem influenciar a maneira como a pessoa se relaciona e se percebe. “Com a doença, há uma quebra na representação de si, que é confirmada pelo olhar do outro. Pelo fato de as pessoas terem um limite estreito do que é normal e anormal, fazem julgamentos e avaliações que impactam na pessoa em relação a quem ela é. Como consequência, algumas mulheres deixam-se levar por estes julgamentos, afetando sua autoestima, causando afastamento social, tristeza, constrangimento, preocupações, entre outros”.
Para quem tem a doença, o ideal é procurar ajuda. “É importante que a pessoa com vitiligo tenha informação de que tanto a terapia como a participação em um grupo de apoio podem ser benéficas. E a partir deste conhecimento, quando ela sentir que não está sabendo lidar com a situação, procure ajuda. O acompanhamento psicológico pode fazer com que ela tome consciência de si e de seu problema, aprendendo estratégias de enfrentamento das situações sociai,s, evitando a vitimização e tendo condições para as mudanças necessárias”, orienta.