A data de realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está chegando – faltam nove dias para o fim de semana de 24 e 25 de outubro –, e o prazo para revisar as matérias fica cada vez mais apertado. Que tal aproveitar o tempo livre para estudar assistindo a filmes? Boas indicações de obras cinematográficas são uma forma rápida e leve de entender momentos históricos do Brasil e do mundo. E o melhor: o entretenimento é garantido.
O crítico de cinema Luiz Gustavo Vilela, do site Crônico de Cinema, apontou 12 títulos para compreender cinco contextos históricos que podem aparecer no Enem. Confira, estoure a pipoca e boa sessão!
Fuga da família real portuguesa para o Brasil
“Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995), dirigido pela Carla Camurati, conta como Dom João VI enganou Napoleão e fugiu para o Brasil trazendo toda a corte, tudo sob o ponto de vista da Carlota Joaquina”, diz Vilela. O fato histórico, ocorrido em 1807, é importante porque o Brasil deixa de ser colônia e passa a sediar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Além disso, a vinda da família real portuguesa provocou uma série de medidas tomadas pela Coroa, como a fundação de universidades, a abertura dos portos às nações amigas e a criação da Imprensa Régia.
Olga Benário e Getúlio Vargas
Para o crítico, Olga (2004), dirigida por Jayme Monjardim, é uma adaptação honesta da biografia escrita por Fernando Morais. O filme ajuda a entender o contexto da Intentona Comunista de 1935 e a repressão da insurreição pelo governo de Getúlio Vargas. No ano seguinte, o presidente deportou a judia Olga Benário para a Alemanha nazista, que a executou em 1942. Avançando 12 anos na cronologia, Getúlio, últimos dias de um presidente (2014), dirigido por João Jardim, mostra os 19 últimos dias de vida do mandatário, que se suicidou em 1954.
Guerra Fria
A Guerra Fria, período de 1945 a 1991 caracterizado pela polarização do mundo entre Estados Unidos e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), tem grandes chances de cair no Enem, já que seu início completa 70 anos em 2015. Vilela indicou três filmes alemães para sentir o clima do conflito: A vida dos outros (2006, direção de Florian Henckel von Donnersmarck ); Adeus, Lênin! (2003, direção de Wolfgang Becker); e O espião que sabia demais (2011, direção de Tomas Alfredson).
“A vida dos outros fala sobre um espião na Berlim oriental que acaba se identificando com a família que espiona, e fica balançado. É poético e ajuda a mostrar a lógica da cidade dividida”, descreve Vilela. Na mesma pegada, ele indica O espião que sabia demais, que retrata a tensão entre URSS e Estados Unidos de um jeito divertido.
Já no período da reunif,icação alemã, Adeus, Lênin! conta a história de uma mãe partidária do comunismo, que entra em coma e acorda depois da queda do muro de Berlim. Seus filhos se veem diante do desafio de esconder os sinais da mudança, pois a mulher não pode sofrer grandes choques. “É um filme obrigatório, que tem uma baita trilha sonora”, garante Vilela.
Ditadura militar e origem do crime organizado
O que é isso, companheiro? (1997, direção de Bruno Barreto) narra um momento marcante na luta armada contra a ditadura militar brasileira: o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick por uma trupe que incluía Fernando Gabeira, autor de livro homônimo.
O filme Quase dois irmãos (2004), dirigido por Lúcia Murat, dá prosseguimento à discussão sobre a ditadura que desemboca em Tropa de Elite (2007), de acordo com o crítico. “É a história de dois garotos que foram criados juntos, um branco e um negro, e que tomaram caminhos diferentes na vida. Eles se reencontram na prisão, o branco como preso político e o negro como preso comum. O filme mostra como presos comuns aprenderam técnicas de guerrilha com presos políticos, o que acaba desembocando no início do crime organizado com o surgimento do Comando Vermelho, que depois evolui para o Primeiro Comanda da Capital (PCC).”
O crime com técnicas de guerrilha, organizado em milícias, é o que mostra Tropa de Elite, dirigido por José Padilha.
Desigualdade social
O crítico recomenda três filmes nacionais recentes para entender a desigualdade social e a relação entre patrões e empregados domésticos. “É uma trilogia existencial que deixa explícito que entre o quartinho de empregada e a senzala não há nenhuma diferença, os dois espaços representam a mesma manutenção de privilégios por uma classe dominante”, diz Vilela. São eles: Que horas ela volta (2015, direção de Anna Muylaert); O som ao redor (2013, Kleber Mendonça Filho) e Casa Grande (2013, direção de Felipe Barbosa).
O aclamado longa que estrela Regina Casé fica só até hoje (14) em cartaz nos cinemas de Curitiba. A trama gira em torno de uma empregada doméstica que criou o filho da patroa, mas não pôde ser presente na criação da própria filha. Quando as duas ficam próximas novamente, vários conflitos se desenrolam.
“O som ao redor tem inspiração europeia, tem um quê de difícil, mas não é exatamente difícil. Já Casa Grande tem aquela coisa do Amar, verbo intransitivo,do Mário de Andrade, em que o pai contrata uma empregada para que o filho perca a virgindade com ela. Esses dois filmes carregam essa questão da desigualdade racial, e um complementa o outro”, explica.