No Paraná, os casos de câncer nas glândulas suprarrenais em crianças acontecem de 15 a 18 vezes mais que em qualquer outra região do mundo. Os números foram diagnosticados em um estudo realizado por especialistas do Hospital de Clínicas (HC), Erasto Gartner e Pequeno Príncipe, em Curitiba. Nos últimos 11 anos, o hospital Erasto Gaertner, referência no tratamento da enfermidade, cuidou de 140 crianças vítimas da doença.

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De acordo com a chefe do setor de pediatria do Erasto Gaertner, Mara Albonei, a constatação de que existem mais casos desse tipo de câncer no Paraná aconteceu pela quantidade de atendimentos relacionados à enfermidade.

“A partir daí, realizamos um estudo analisando as declarações de óbito e observamos que o número de crianças vítimas desse tipo de câncer era alto se comparado com o restante do mundo”, explica.

Após essa verificação, a pesquisa se focou na avaliação do gene que controla o desenvolvimento celular no organismo, o p53. “Por meio das pesquisas, verificamos que todas as crianças com esse tipo câncer apresentavam o gene p53 modificado. No entanto, o que torna difícil a obtenção da causa do câncer é a constatação de que nem todas as crianças que têm o gene alterado desenvolvem o câncer da suprarrenal”, relaciona a médica.

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Da mesma forma que é difícil apontar as causas, não se sabe ainda também qual a razão de haver maior incidência desse tipo de câncer no Paraná. “O câncer está associado a essa alteração genética. As crianças recebem o gene do pai ou da mãe, mas só a mutação não basta para desenvolvê-lo, existem outros fatores que ainda não conhecemos. Estamos trabalhando na análise do DNA e RNA para tentar definir melhor qual é a causa que está gerando esse alto número de registros no Estado”, diz.

Pezinho

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Os pesquisadores averiguaram que o teste de pezinho é capaz de detectar essa mutação, facilitando o tratamento. “Depois que descobrimos se a criança tem ou não o gene modificado, através do teste, podemos acompanhar o paciente para detectar qualquer alteração hormonal correspondente ao câncer da suprarrenal”, explica.

Essas alterações consistem no crescimento de pelos pubianos, aumento do volume do pênis, acne, voz grave, irritabilidade, ganho de peso e estatura exacerbados em crianças menores de um ano até quatro anos de idade. “A mutação do gene faz com que organismo das crianças atue como se estivesse na adolescência”, descreve a pediatra.

Se diagnosticada cedo, enfermidade pode ser sanada

Daniel Caron
Dhiury de Paula Chutz descobriu câncer na suprarrenal aos 12 anos e hoje está curado.

Aos 12 anos, o estudante de São José dos Pinhais Dhiury de Paula Chutz, hoje com 18 anos, descobriu que tinha câncer na suprarrenal. O tratamento do garoto aconteceu no hospital Erasto Gaertner.

“Os médicos desconfiaram que eu tinha câncer quando fui ao posto de saúde. Eu já tinha voz grossa e muitos pelos no corpo. Eles me encaminharam ao HC, onde fiquei uma semana fazendo exames. Lá foi constatado que era realmente câncer na suprarrenal.

O tratamento durou nove anos, hoje estou curado e sem nenhuma sequela”, descreve. De acordo com a chefe do setor de pediatria do hospital, Mara Albonei, com diagnóstico precoce é possível curar o câncer por meio de uma cirurgia. Se o tumor já estiver desenvolvido, porém, o paciente é submetido a um tratamento de quimioterapia.

“É um procedimento muito a,gressivo para a criança. Infelizmente não podemos falar em tratamento preventivo para o câncer da suprarrenal. No caso do câncer de pele, por exemplo, a prevenção é evitar o sol; o câncer de pulmão se previne não fumando. Nesse caso, o mais correto é diagnosticar no início”, aponta a médica.

Pais devem ficar de olho na alimentação desde a infância

A obesidade e o sobrepeso são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do câncer em crianças e adultos. Para alertar a população sobre os malefícios que a ingestão de determinados alimentos pode causar foi lançada no último dia 4 uma campanha global em comemoração ao Dia Mundial do Câncer, sob o tema “Crianças de hoje, mundo de amanhã”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 2,6 milhões de pessoas morrem anualmente por causa do excesso de peso ou obesidade. Segundo o técnico da área de alimentação, nutrição e câncer do Instituto Nacional do Câncer (INC), Fábio Gomes, uma criança obesa tem 30% de chances de se tornar um adulto obeso.

“A primeira atitude que os pais podem tomar é alimentar os filhos somente por meio da amamentação até os seis meses de idade. Isso reduz em 13% as chances de a criança tornar-se obesa”, aponta.

Para o especialista, a ingestão de alimentos embutidos, como presunto, linguiça e salame, por exemplo, deve ser evitada sempre. “São alimentos que contêm muitos conservantes, que são cancerígenos ao organismo. A fumaça do churrasco também pode conter substâncias que prejudicam a saúde”, alerta.

Para manter uma alimentação saudável, é preciso maneirar na carne e fazer um prato bem colorido. “O indicado é comer no máximo 500 gramas de carne por semana, distribuídos entre frango e peixe. Já de frutas, verduras e legumes, devemos consumir 400 gramas por dia.

Essa quantidade corresponde a mais ou menos o que couber nas mãos”, recomenda. Gomes lembra que esses alimentos têm o poder
de proteger o organismo contra fatores causadores do câncer.

“E caso já exista um agressor no corpo, irão evitar que as substâncias nocivas cheguem às nossas células, diminuindo as chances de as células precursoras do câncer se desenvolverem.”