A exploração do planeta Marte começou nos anos 1960s, quando os Estados Unidos e a União Soviética disputavam o domínio da tecnologia espacial. Após a conquista da Lua, a exploração do planeta vermelho transformou-se num novo desafio entre as duas potências. Em 1971, os norte-americanos estabeleceram um mapa fotográfico da superfície do planeta. Dois anos mais tarde os soviéticos obtiveram informações sobre a composição atmosférica marciana graças às suas sondas Marte 4 e Marte 5, assim como fotos que revelaram a presença de vapor d?água e ozônio.
Os norte-americanos retomaram a corrida três anos mais tarde com as sondas Viking 1 e 2, que pousaram em Marte em 1976, quando pela primeira vez montanhas, vulcões e mesmo nuvens foram registrados. A Viking 2 encontrou indícios de que o planeta havia sofrido grandes inundações no passado. Depois de uma ausência de cerca de 20 anos, a Nasa retornou a seu programa de exploração marciana e conseguiu, com sucesso, colocar em sua superfície a sonda Sojourner – um veículo robotizado – graças à sonda Mars Pathfinder, lançada em 4 de julho de 1997. O objetivo foi sempre o mesmo: encontrar traços de vida no planeta. Na mesma época, a sonda Mars Global Sourveyor, lançada em 7 de novembro de 1996 e colocada em órbita em 12 de setembro de 1997, obteve cerca de 240 mil imagens que completaram a documentação sobre Marte, dentre as quais vários registros de uma gigantesca tempestade de areia e a confirmação da presença de gelo e de água.
O único sucesso dos europeus nessa corrida para o planeta Marte foi o lançamento da missão Mars Express, em 2003. A tentativa de colocar na superfície um robô falhou, mas a sonda colocada ao redor do planeta vermelho enviou fotos dois anos mais tarde, as quais se assemelhavam a um mar de gelo sobre a superfície de Marte – uma espécie de permafrost (tipo de solo congelado).
A partir de 31 de janeiro de 2004, Spirit e Opportunity, dois robôs geólogos norte-americanos, prosseguiram nas investigações de traços de água na superfície marciana. Os dados sobre o solo marciano foram completados pelas imagens do orbitador Mars Recomaissance Orbit, lançado em 2005, cujos registros permitiram estabelecer com sucesso o local da aterrissagem da Phoenix, que chegou à atmosfera de Marte no final do mês passado.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, autor de mais de 85 livros, entre eles, o Nas fronteiras da intolerância. Consulte a homepage: http://www.ronaldomourao.com
O pouso da sonda Phoenix
Após uma viagem de 690 milhões de quilômetros, a sonda Phoenix entrou na atmosfera marciana em 25 de maio último por volta das 23h31 TU, a uma velocidade de 21 mil quilômetros por hora, quando teve início a fase mais difícil de toda a viagem: o pouso na superfície de Marte. A aterrissagem ocorreu sete minutos mais tarde, às 23h28 TU. No entanto, a confirmação através de rádio da descida só se deu às 23h53, pois foram necessários 15,3 minutos para que o sinal percorresse, à velocidade da luz, os 273 milhões de quilômetros que separavam no momento Marte da Terra. Os responsáveis pela missão descreveram essa aproximação final como ?sete minutos de terror?, tendo em vista a dificuldade de aterrissagem de uma sonda em Marte. Na realidade, somente
45% de todos os veículos enviados à superfície do planeta tiveram sucesso em realizar um pouso suave. Para entrar na atmosfera, a sonda Phoenix utilizou um escudo térmico, antes que os pára-quedas supersônicos se abrissem para reduzir sua velocidade.
Em seguida, a sonda acionou os retrofoguetes, que permitiram o pouso de seus três pés sobre a planície de Vastitas Borealis.
Um minuto após a confirmação de sua chegada, a Phoenix manteve silêncio para economizar suas baterias destinadas a efetuar a abertura dos painéis solares de forma circular. Eles só foram expostos 20 minutos após a aterrissagem; tempo usado para que a poeira abaixasse, evitando o depósito em seus painéis, o que poderia reduzir seu rendimento.
Preparativos para futuras missões tripuladas
A Phoenix não visa somente a estudar o permafrost ártico marciano, mas também determinar se esta região seria habitável para futuras explorações tripuladas a serem enviadas a Marte. Dotada de instrumentos que permitem analisar a composição do permafrost, ela será capaz de detectar as moléculas de carbono e hidrogênio, elementos fundamentais à vida.
A sonda pode também descobrir outros componentes químicos e determinar se uma forma de vida primitiva teria existido, ou, ainda, se existe alguma espécie de vida sobre Marte. Uma vez em Marte, a Phoenix possui um braço articulado de 2,35 metros que será capaz de cavar a uma profundidade de até um metro para colher amostras a serem analisadas pelo laboratório, que enviará os resultados ao centro espacial na Terra. Um instrumento no braço pode aquecer as amostras com o objetivo de detectar a existência de substâncias voláteis como a água. Uma das câmaras, de grande poder de resolução os olhos da fênix já é capaz de obter imagens do solo marciano até em três dimensões.
Em 2002, o orbitador norte-americano Mars Odyssey havia detectado uma enorme quantidade de hidrogênio na superfície do planeta, confirmando que as regiões polares daquele planeta estão cobertas de gelo. Os robôs Opportunity e Spirit, que exploram há três anos a superfície de Marte no equador, encontraram também indícios da presença de água no passado.
Com seus dois painéis solares abertos, a Phoenix mede cinco metros de largura e 1,52 metro de comprimento, pesando 350 quilos, dos quais 55 são de instrumentos científicos. O custo da missão na inexplorada região ártica de Marte, com duração de três meses, é de US$ 42 milhões.
A próxima mais importante etapa será o envio de uma missão tripulada a Marte por volta dos anos 2020, uma colaboração entre os norte-americanos e os europeus.