Um erro de transcrição e uma correção tardia resultaram na troca grotesca de sentido de uma das declarações feitas pela médica Virgínia Soares de Souza, suspeita de antecipar mortes de pacientes na UTI do Hospital Evangélico. No início do inquérito, a transcrição trazia a frase “cabeça tranquila para assassinar”, mas o verbo usado pela médica foi “raciocinar”. A correção desse trecho e de outros cinco foram anexadas pela delegada do Núcleo de Repressão de Crimes contra a Saúde (Nucrisa), Paula Brisola, somente no dia 23 de fevereiro, quatro dias após a prisão preventiva da médica.
Para a defesa da médica, o erro de transcrição foi considerado uma “manobra ardilosa” da polícia. “Serviu para demonizar a médica perante o juiz, a imprensa, o Ministério Público e a opinião pública. Depois do sigilo judicial quebrado, muitos não tiveram acesso ao inquérito completo e ficaram com o erro”, avaliou o advogado da médica, Elias Mattar Assad.
Lacunas
Ele mesmo diz estar com partes do inquérito obtidas no dia 21 de fevereiro, antes da data da correção (tratada pela polícia pelo termo corrigenda). “Agora fica claro porque negaram o acesso a tudo que tem dentro”, explicou o advogado que ontem mostrou o áudio que comprovava o erro de transcrição.
A Polícia Civil, por meio de nota, disse que a delegada Paula Brisola não pode comentar nada sobre as interceptações telefônicas, que estão sob o sigilo legal (amparada pela lei da interceptação telefônica). Entretanto defendeu a existência das “corrigendas” nos autos. Além disso, a polícia fez questão de frisar que os mandados de prisão expedidos pela Justiça, “foram concedidos devido à análise de um inquérito com cerca de mil páginas e não por um verbo, como tenta provar o advogado de defesa de uma das suspeitas”.
Prisão
O Tribunal de Justiça não se manifestou sobre o pedido de habeas corpus para Virgínia. “Não impetrei a liminar e disse para minha cliente não ter pressa, porque quero que a Procuradoria Geral de Justiça do Ministério Público dê o seu parecer sobre o caso”. Ela está presa na Penitenciária Feminina de Piraquara.