“Eu peço desculpas por vocês perderem um dia de trabalho em função do que aconteceu”, foi assim que o pai de Carlos Ramon Dias, de 18 anos, deu uma lição de humanidade na manhã desta terça-feira (16) em Colombo, Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Edicarlos Del Antônio esperava, desde a noite de segunda-feira (15), a remoção do corpo do filho pelo Instituto Médico-Legal (IML) e a viatura só veio quase 14 horas depois.
O rapaz foi morto durante o que seria uma tentativa de assalto, por volta das 21h30, quando voltava para a casa depois de buscar a esposa na casa de amigos. Acompanhado da jovem e de um amigo, Carlos subia a Rua Pedro Manika, no bairro Roça Grande, quando os três foram abordados por um bandido. “Ele deu voz de assalto e pediu os celulares e dinheiro. Todos entregaram, até mesmo o meu filho, mas não sei porquê ele reagiu”, contou o pai do rapaz. Um dos envolvidos no assalto foi apreendido no fim da tarde desta terça-feira (16).
Com a reação de Carlos, o assaltante também reagiu e o rapaz foi baleado na cabeça. Os socorristas do Siate até chegaram a ser encaminhados ao local, mas o jovem não resistiu ao ferimento e morreu ali mesmo, na rua.
Velório na rua
Durante mais de dez horas, a família velou o corpo do jovem de 18 anos no meio da rua. O corpo não foi recolhido antes porque o IML não tinha viatura suficiente. Em determinado momento do ‘velório’ começou a chover e a família, reunida com amigos e familiares, improvisou uma barraca para ficar no local.
Desde o momento do crime, a Polícia Militar (PM) acionou o IML e o Instituto de Criminalística. A perícia veio, mas o corpo ainda não foi recolhido. “Uma situação lamentável. A viatura que viria sofreu um acidente e outra viatura teve que ser mobilizada”, explicou o tenente Lucas.
Horas depois
O corpo de Carlos foi recolhido pelo IML pontualmente às 11h da manhã de terça-feira, 13 horas e meia depois do acionamento inicial. De lá, a família seguiu para a Delegacia de Colombo, para retirar a guia de necrópsia.
O documento é necessário para que seja levado ao IML. Depois, o corpo deve se levado a uma funerária e, finalmente, para o velório. “Nós não sabemos que horas ao certo vamos conseguir velar nosso filho. Mas pelo menos nossa humilhação na rua acabou”, desabafou o pai.
Mesmo com tamanha tristeza, o pai de Carlos disse que não vai deixar o crime passar em branco. “Eu não queria estar aqui. Muitos pais não queriam estar aqui na minha pele. O que eu peço é para que a Justiça seja feita. Eu ainda confio nos curitibanos, não vai ser hoje que vai me desanimar. Só peço perdão para vocês (da imprensa) por estarem até agora aqui acompanhando a nossa angústia”, comentou Edicarlos.
Revoltada, a mãe do rapaz também desabafou: “De duas horas, esperamos 12, para retirarem meu filho daqui. Muitas mães já passaram por isso. Isso é um descaso. Se fosse o filho de um rico ou um bandido, um vagabundo, já teriam retirado o corpo daqui. Mas como era um trabalhador, vivemos isso”, disse Sueli Aparecida Dias Del Antônio.
Problema com as viaturas
A Secretaria Estadual de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR) se posicionou por volta das 10h30, através de nota, e informou que houve um problema pontual, que ocasionou a demora no recolhimento dos corpos. Segundo a Secretaria, um rabecão que atendia Curitiba estragou e foi solicitada para a empresa que loca as viaturas um carro reserva, que não foi disponibilizado.
Como uma das viaturas, que estava prestes a chegar ao local do crime, se envolveu no acidente, a direção da Polícia Científica solicitou o deslocamento de um rabecão que atende a Operação Verão, no Litoral do Paraná. Antes que a viatura viesse para Curitiba, houve um homicídio no litoral e isso atrasou a chegada à capital.
Equivocadamente, a Sesp informou, às 10h30, que “todos os corpos já tinham sido recolhidos pelo Instituto Médico-Legal”, o que de fato não aconteceu, já que o corpo de Carlos foi removido do local do crime em Colombo só às 11h. Segundo a Sesp, o serviço está normalizado.