Uma ideia que parecia só passar pela cabeça de Mário Celso Petraglia está mais avançada do que muita gente imagina. O surgimento da “Arena Atletiba” está em forte negociação. E a reunião realizada na segunda-feira (27) na sede do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, o Ippuc, só confirma esse fato. Apesar da versão oficial de que seria uma conversa sobre reformas no Couto Pereira, o encontro que reuniu técnicos, o presidente do instituto, Reginaldo Reinert, e os presidentes de Atlético, Coritiba e Paraná Clube, tratou sim de como se criar um mecanismo que acelere a transformação da Arena da Baixada em um estádio para os dois clubes. E, por que não, para o Trio de Ferro. Ou, melhor, a “Arena dos Paranaenses”.
Um estádio único é um plano antigo de Mário Celso Petraglia, que na verdade chegou a sugerir no passado fusões de dois ou dos três clubes da cidade, por achar que Curitiba não comportaria o Trio de Ferro. Como essa ideia não vingou, ele passou para o estádio. Inicialmente poderia ser em qualquer lugar, mas depois ele se fixou na Arena da Baixada – até por ser o local com mais estrutura, após a remodelação para a Copa do Mundo de 2014.
Sempre lhe faltou respaldo. Dentro do Atlético, o tema nunca foi uma unanimidade. Nos outros clubes, então, nem se fala. Mas nos últimos meses, o presidente do conselho deliberativo do Furacão encontrou um interlocutor. Rogério Portugal Bacellar, o presidente do Coritiba. Hoje, Petraglia é uma espécie de “conselheiro informal” do cartola, que o ouve em questões estratégicas do Coxa, até mesmo no futebol. O fato não é mistério para ninguém, e outros dirigentes passaram a manter contato mais estreito, como o vice-presidente Alceni Guerra, que é o principal entusiasta de um estádio novo para o Cori.
Nas inúmeras conversas que tiveram nos últimos meses, Petraglia e Bacellar não trataram apenas de direitos de transmissão e de como tirar Hélio Cury da Federação Paranaense de Futebol. O estádio único também esteve em pauta. E o presidente do Coxa foi começando a gostar da ideia. E o que eram planos passaram a ser negociações. Envolvendo inclusive empresas interessadas em patrocinar uma “Arena Atletiba”. Hoje, já haveria até uma cervejaria engatilhada para comprar os naming rights do Joaquim Américo. Mas com a condição de que Atlético e Coritiba mandassem seus jogos lá.
Em entrevistas para o site UOL, Alceni Guerra confirmou que havia conversas. “O Mário sempre teve esse intenção, desde antes da construção da Arena da Baixada. Ele tem isso na cabeça. Eu falei pra ele: ‘essa decisão está acima de mim, de você, do Bacellar'”, disse.
E as tratativas se aceleraram – inclusive com a rápida tramitação na Assembleia Legislativa de um projeto que autoriza a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. E a reunião no Ippuc surpreendeu até os técnicos do instituto, pois a atual gestão não completou sequer dois meses de mandato. E já está tratando de um tema pra lá de complexo. Talvez porque não soubessem que o assunto já tinha sido conversado com a gestão anterior, tanto que o ex-prefeito Gustavo Fruet tinha sido consultado sobre essa possibilidade.
Na versão oficial da reunião de segunda, um novo Couto Pereira na pauta. “Não houve essa conversa de arena única, em momento algum. E posso adiantar para vocês que, na opinião do nosso prefeito (Rafael Greca), ele jamais endossaria isso pessoalmente”, afirmou Reginaldo Reinert, que depois deu uma declaração enigmática. “Como são os três clubes da capital e a conversa de estádio é necessidade de todos, achamos por bem colocarmos todos na mesa”.
Motivos
Ippuc e Prefeitura Municipal não entrariam à toa dentro do processo de um estádio único para o Trio de Ferro. Eles precisam dar o aval para possíveis movimentos dos clubes. O instituto é responsável por todo planejamento urbano de Curitiba. Se, por exemplo, o Coritiba se desfizer do Couto Pereira, será necessário definir o que poderá ser feito no local. E é aí que o Ippuc entra, determinando os limites para empreendimentos.
A Prefeitura Municipal tem no Coritiba um devedor. E este seria um motivo para que um acordo envolvendo todas as partes saísse. O Município estuda executar as dívidas do Coxa, e para isso pediria na Justiça o leilão dos bens do clube – no caso, o estádio Couto Pereira. Antes que isso acontecesse, o clube faria um acerto, cedendo parte do terreno do Alto da Glória para a Prefeitura e quitando suas dívidas. Ficaria sem seu estádio, mas aí viraria sócio do Atlético na Arena da Baixada, que poderia virar neste caso “Arena Atletiba”.
Mas pode virar “Arena dos Paranaenses”. Isso se o Paraná Clube também aceitar definir suas pendências com as esferas públicas e repassar o terreno da Vila Capanema para a União em troca da quitação de muitas de suas dívidas. O acordo, então, passaria também pelo governo estadual, o que facilitaria a vida do Trio de Ferro. Assim quitaria-se boa parte da dívida dos clubes, inclusive a do Atlético nas obras da Arena da Baixada.
Próximos passos
Numa sequência normal, esta decisão teria que passar pelos conselhos deliberativos do Trio de Ferro. No Atlético, não é problema, pois Mário Celso Petraglia tem apoio quase irrestrito, mesmo num tema polêmico. No Coritiba, falar em sair do Couto Pereira é quase um sacrilégio, mas se as dívidas forem executadas, a diretoria pode negociar com a Prefeitura sem o aval do conselho. E no Paraná Clube, que vive uma situação financeira delicada, a proposta ainda carece de maior discussão.
O certo é que uma “Arena dos Paranaenses”, um estádio único para o Trio de Ferro, é um assunto que praticamente une os torcedores. Quase nenhum coxa-branca ou paranista aceita sair do seu estádio para ir para a Arena. E quase nenhum atleticano aceita dividir seu estádio com os rivais. Enquanto a galera fica esperando, os bastidores fervem. Os clubes negociam. E tudo pode acontecer.