O castelo, de três andares, foi construído há cerca de 20 anos. Após morar durante décadas na Itália, a proprietária voltou ao Brasil e decidiu que teria um pedaço da cultura italiana na capital do Paraná. Só que, após erguer a obra, desistiu de finalizá-la. Por anos a estrutura ficou fechada e se tornou um mistério para a vizinhança.
Entre os curiosos, e também interessado, estava Odair Bonifácio, o Boni, 58 anos. “Passei aqui algumas vezes e nunca encontrava a dona. Um dia, por sorte, a vi. Expliquei a intenção de alugar o imóvel e não foi fácil convencê-la. Foram alguns meses de diálogo”. A vontade de Boni, presidente do motoclube Velhos Cavaleiros, era estabelecer ali uma sede para o grupo de amigos motociclistas.
“Ela só aceitou alugar para a gente quando viu que não iríamos modificar o local. A gente sempre quis manter o que isso é, rústico… no nosso estilo”, relata Erica Renata, a membra mais nova que, apesar da pouca idade (20 anos), tem participação ativa.
Entre os 11 cômodos, foram montados quartos para três integrantes do grupo, que fizeram do castelo a sua residência. Pelos corredores, tochas nas paredes ajudam a reforçar a sensação de que se voltou no tempo. Tanto a parte interna quanto a externa, ainda com reboco, e o chão no concreto puro são apenas detalhes, mas que serão mantidos. A sala de entrada conta com um palco e, mais à frente, uma mesa de sinuca. Ao lado, a mesa com os troféus que o grupo já conquistou por participações em eventos por todo o Brasil. Mas não para por aí. Entre os espaços vazios, há planos para uma oficina de motos e um estúdio de tatuagem. Ofícios que serão desempenhados pelos próprios integrantes.
Vizinhança e assombrações
Assim que assumiram o castelo, os motociclistas descobriram que os boatos eram de que todo o prédio era mal assombrado. “Os vizinhos, assustados, começaram a relatar que até costumavam ver alguns fantasmas por aqui, achavam que o nosso castelo era mal assombrado, mas eu fiz questão de falar que o único fantasma por aqui sou eu”, brinca Boni.
Outro membro do grupo, Rafael Kozoski, 31 anos, explica que o grupo mantém uma boa relação com a vizinhança. “Um casal, passando pela frente, nos confessou que o filho pequeno, de cinco anos, tinha o sonho de conhecer o castelo. Quando entrou, ele não queria mais ir embora, adorou o nosso espaço. Muita gente aproveita para conhecer”.
Motoclube e preconceito
A barba, a expressão facial de seriedade e as roupas pretas ao lado das motocicletas podem até enganar em uma primeira impressão, mas dão lugar ao papo fácil e a recepção de todo o pessoal. Duas mulheres integram a confraria predominantemente masculina.
“É muito triste quando alguém nos julga precipitadamente e acha que a gente, ou qualquer outro motoclube, possa ser uma gangue. Isso não condiz com a realidade. Somos um grupo de amigos com um interesse em comum – a paixão por duas rodas”, explica o presidente do grupo.
Dentro do motoclube, há uma hierarquia. Tudo é organizado e planejado – norma respeitada, inclusive, nas viagens de moto. “Entre viagens, encontros e festas, os Velhos Cavaleiros fazem ações sociais, assim como outros grupos de moto. Visitamos asilos, fazemos doações, promovemos atividades para crianças em datas festivas”, cita Rafael.
Serviço
A sede é aberta aos amigos e simpatizantes duas vezes por semana. Nas quintas-feiras, abre às 19h. No sábado, a partir das 14h.
O castelo fica na Rua José Afonso Cordeiro, 71 – Pinheirinho.