Caos e decepção

Foto: Felipe Rosa.

Os moradores de Araucária ainda estão chocados com a prisão do prefeito Rui Alves de Souza (PTC), ocorrida terça-feira. Ele foi pego na “Operação Fim de Feira”, deflagrada pela Promotoria do Ministério Público (MP) de Araucária, que investiga ele e outros servidores municipais por concussão e lavagem de dinheiro, em associação criminosa (exigência de dinheiro para liberar valores de contratos com a prefeitura e, até mesmo, para firmar contrato).

“Ainda não estou acreditando. Foi assustador, nunca pensei que isso fosse acontecer aqui”, disse surpresa a vendedora Débora Boveto.

Débora: Prisão doi surpresa. Douglas: Parceia honesto. Nocolly: cidade abandonada. Fotos: Felipe Rosa.
Débora: Prisão foi surpresa. Douglas: Parceia honesto. Nicolly: cidade abandonada. Fotos: Felipe Rosa.

A prisão é preventiva e foi determinada pelo Tribunal de Justiça do Paraná, que também pediu o afastamento do prefeito do cargo. No lugar dele assumiu o presidente da Câmara, Roberto Davi Mata (PSD), o “Betão”. A situação política na cidade é inusitada, já que o prefeito preso foi eleito como vice, mas passou a ocupar a chefia do Executivo porque seu companheiro de chapa renunciou por questões de saúde. “Fiquei decepcionado, pois até então tínhamos ele (Rui) como uma pessoa honesta”, desabafou Douglas de Souza. Já a estudante Nicolly Vosne espera que, com a prisão, a cidade melhore.

“Aqui está tudo abandonado. Falta segurança, o transporte é uma bagunça. Espero que o próximo prefeito melhore tudo”, pede.

Além do chefe do executivo, o secretário de finanças Fábio Antônio da Rocha também foi preso. O MP ainda cumpriu mandados de busca e apreensão na residência do prefeito e em gabinetes da prefeitura, num total de 11 locais.

Atual e futura gestão: transição tranquila

Em entrevista coletiva, ontem, o prefeito interino “Betão” e o prefeito eleito, Hissan Hussein Dehaini (PPS), garantiram que a transição de governo será tranquila. “Estamos a dez dias da posse e queremos que tudo ocorra em clima de tranquilidade”, falaram. De acordo com eles, a ideia é fazer um “pacto” à favor da cidade. “Esperamos que os moradores possam usufruir de uma cidade em crescimento, com geração de empregos. A Prefeitura é a maior empresa de Araucária, com o maior número de funcionários”, lembraram. Ao todo, são mais de 5 mil colaborares.

Hissan e "Betão": "Pacto" a favor da cidade.
Hissan e “Betão”: “Pacto” a favor da cidade.

Mal entrou na prefeitura e “Betão” já teve que apagar alguns incêndios. Na manhã de ontem, impediu a deflagração de duas greves, a dos servidores municipais, que não tinham recebido o 13º salário, e dos motoristas de ônibus. “E ainda negociamos com uma terceira empresa, cujos funcionários também queriam parar”, relatou. “Nossa prioridade é garantir uma transição tranquila. Queremos que até o final de semana todos comam seus panetones com a cabeça mais fresca”, avaliou.

Dívidas e mais dívidas

Infraestrutura da cidade padece.
Infraestrutura da cidade padece.

A cidade de Araucária tem 136.439 habitantes, segundo o último Censo do IBGE (2016). Apesar de ocupar o segundo lugar no ranking de arrecadação de ICMS, a cidade ocupa o 8º lugar na receita. “Estamos vivendo um momento caótico na administração de Araucária”, admitiu o prefeito eleito. De acordo com ele, a cidade tinha dinheiro, mas “estava escondido”. Entre as prioridades a serem resolvidas pela nova administração, o prefeito elenca saúde, transporte, educação e folha de pagamento. Em relação à saúde, ele conta que apesar da cidade ter mais de 130 mil habitantes, o número de usuários cadastrados chega a 250 mil. O município gasta cerca de R$ 1 mil por habitante em saúde, o dobro das outras cidades do Paraná. “Ainda temos uma dívida enorme no hospital e com o transporte coletivo”, destacou.

Pinhais em alta

Luizão: 'Resultado é o plano de governo". Foto: Arquivo.
Luizão: ‘Resultado é o plano de governo”. Foto: Arquivo.

Se Araucária vive uma crise sem precedentes, o município de Pinhais nunca esteve tão em alta. Prestes a terminar o seu mandato como prefeito, Luizão Goulart conclui o ano com uma aprovação recorde. Em levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisa, 94,1% dos eleitores da cidade aprovam a gestão dele. Segundo o diretor do Instituto, Murilo Hidalgo, este resultado é considerado um dos melhores se não o melhor entre todos os municípios brasileiros. “Realizamos pesquisa em todo o País e desconhecemos tamanha aprovação, ainda mais levando em consideração o atual momento de descrédito que vive a classe política no país”, destacou.

O levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisa ouviu 662 eleitores de Pinhais entre os dias 04 e 07 de dezembro de 2016. Tal amostra representativa do município de Pinhais atinge um grau de confiança de 95,0% para uma margem de erro de 4,0% para os resultados gerais.

Trabalho

Para Luizão, o resultado é reflexo do bom trabalho que vem sendo realizado no município. “Em Pinhais, nós trabalhamos muito e cada um faz o melhor de si no que é de sua responsabilidade. Acredito que isto é resultado de um plano de governo baseado em problemas reais e com soluções possíveis”, destacou.

Luizão também destaca a administração profissional. “Coligamos em cima de projetos e não de cargos”, garantiu. O prefeito encerra sua gestão no azul. Pinhais é a segunda cidade no Paraná em arrecadação de ICMS. “Não vai ter sobras, pois nos últimos dois anos sofremos as ações da crise”, lamentou. Mas ele aposta na nova administração, já que sua vice foi eleita para o cargo. “A cidade é a única no país a eleger duas mulheres para a administração”, garantiu.

Por Raquel Tannuri Santana

Empurrando

A crise financeira dos estados é grave, mas a dos municípios não fica atrás. E, ao contrário dos governadores, os prefeitos não estão conseguindo negociar com a União o repasse de recursos extras, como a multa da repatriação. Sem esse dinheiro, muitas prefeituras não conseguirão pagar o 13º salário dos funcionários, nem honrar contratos. Com isso, deve crescer o número de municípios que decretaram calamidade financeira; são pelo menos 37 no Brasil, mas nenhum no Paraná.

A crise municipal tem um agravante: em 31 de dezembro encerra o mandato dos atuais prefeitos. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), não pode haver restos a pagar no fim do mandato, sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito. Também há previsão de punição para limites de endividamento e de despesas de pessoal. Para evitar a responsabilização dos prefeitos, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) reivindica a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 315/2016, de autoria do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que permite a flexibilização da LRF para os gestores em fim de mandato.

Curitiba

A prefeitura de Curitiba apoia mudança na LRF. “A lei foi elaborada considerando um período de estabilidade econômica, com padrão estável de crescimento, e não considerou um cenário de recessão profundo e contínuo, como o atual, que causou uma abrupta queda da atividade econômica”, disse em nota a prefeitura.

Por Rosana Félix

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