Socorro pelo celular

Mulheres que utilizam o transporte coletivo sabem o quanto é difícil estar constantemente exposta ao risco de sofrer um assédio sexual dentro dos veículos, um problema que tem se tornado comum em grandes cidades. Mas, no que depender de uma solução criada por duas alunas de um colégio particular de Curitiba, os ataques poderão ser combatidos e evitados. Estudantes do 9º ano do ensino fundamental, Eduarda Rossi, 14 anos, e Lara do Prado Matesich, 13, desenvolveram um aplicativo para celular, que conectado a um “botão do pânico”, pode afastar o agressor e ainda ajudar as vítimas a pedirem ajuda.

A ferramenta funciona assim: ao perceber a ação do agressor, a vítima ou quem está vendo o abuso acontecer aciona o botão para que o som de uma sirene seja emitido por seu celular. Nisto, seus contatos também recebem uma mensagem de texto com o pedido de socorro e dados que indiquem sua localização. Informações que podem ser repassadas para a polícia e Guarda Municipal, para que o agressor possa ser pego e preso em flagrante.

Mas se a vítima estiver sob risco ou sendo ameaçada, as criadoras do projeto recomendam pedir ajuda de maneira silenciosa. “Se a pessoa está em um lugar escuro, está sozinha ou com medo, vai uma mensagem silenciosa, sem alarme, também para os contatos cadastrados”, explica Eduarda.

Estudantes de Curitiba criam app antiassédio. Foto: Felipe Rosa
Estudantes de Curitiba criam app antiassédio. Foto: Felipe Rosa

Após criarem a ferramenta, as adolescentes apresentaram o app e o botão para algumas usuárias do transporte coletivo de Curitiba, que aprovaram a ideia. “Nós fomos até os ônibus entrevistar as mulheres e muitas delas contaram que têm vergonha de falar sobre o assunto. Mas elas disseram que teriam coragem de acionar o aplicativo e 90% delas disseram que já foram assediadas nos ônibus. Mas elas não sabem o que fazer e têm vergonha de pedir ajuda”, conta Lara.

Criado pra ajudar

A escolha do tema, que deu origem ao projeto S.O.S People e que, segundo as meninas, significa “Sua omissão não salva as pessoas”, fez parte de uma atividade para a “Mostra de Soluções para Uma Vida Melhor”, a feira de ciências da escola. “A gente precisava achar um tema para a mostra e após pesquisar diversos assuntos, vimos que o número de assédios começou a aumentar, principalmente em Curitiba. Por isso, a gente pensou em achar um meio para ajudar estas mulheres”, lembra Lara. “A gente decidiu que queria um tema polêmico e atual para a mostra, só depois veio a ideia do aplicativo e de um dispositivo, que pudesse constranger o meliante durante o assédio”, complementa Eduarda.

Prontas pro futuro

Orientadora das alunas, a professora de Língua Portuguesa Claudia Secco Morgenstern,46, conta que elas trabalharam por meses neste projeto, de abril a outubro deste ano, até obter o resultado alcançado. E além de diversas pesquisas, as atividades incluíram até visitas à Delegacia da Mulher de Curitiba.

“Primeiro foi feita a pesquisa, depois elas procuram um especialista, no caso, a delegada Samia Coser da Delegacia da Mulher, para ver a viabilidade do projeto. Depois foram feitas as adaptações, antes da apresentação aos avaliadores. Estas meninas, quando chegarem à faculdade, vão ter outra visão. Elas já sabem fazer um projeto científico e criaram algo para ajudar quem está sofrendo”.

Em breve na loja de apps

Desenvolvido com a ajuda de um vizinho de Eduarda, que é técnico em tecnologia de informação (TI), a ferramenta que utiliza um botão universal – que se conecta ao app pela internet e ao celular por bluetoo – ainda é um protótipo. Mas com apoio de empresas que pertencem ao mesmo grupo que o colégio, em breve, dispositivo e aplicativo próprios poderão estar disponíveis ao público. Hoje, o botão utilizado pelas estudantes custa cerca de R$ 100.
No futuro, elas ainda pretendem substituir o botão por uma caneta, que possa gravar imagem e voz do agressor, para ajudar na identificação pela polícia. Outra intenção das jovens é oferecer o aplicativo com download gratuito, e vender ou locar o botão a preços acessíveis.

Casos de assédio e atos obscenos dentro do transporte coletivo vêm crescendo. Foto: Gerson Klaina
Casos de assédio e atos obscenos dentro do transporte coletivo vêm crescendo. Foto: Gerson Klaina

Vítimas em Curitiba

De acordo com dados da Guarda Municipal de Curitiba, do início de janeiro ao dia 20 de outubro deste ano, foram atendidos 56 casos de assédio sexual e atos obscenos e libidinosos em ônibus, estações-tubo e terminais de Curitiba. Neste período, 20 pessoas foram presas pela GM por estes crimes. No mesmo período de 2016, a corporação atendeu 52 ocorrências e realizou 14 prisões relativas a ambas as situações.

Em casos de assédio sexual em ônibus, a orientação da Secretaria Municipal de Defesa Social é fazer a denúncia com uma ligação para o telefone 153. “A denúncia pode ser feita pela vítima ou por testemunhas. É importante também rapidez na comunicação do fato à Guarda Municipal, para que a abordagem possa ser feita o mais rápido possível”, ressaltou a instituição, em nota.

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