Busão vazio

Foto: Arquivo

A opção é ainda mais viável para Diego Wierny, 26 anos. Morador do bairro Uberaba, trabalha como auxiliar de produção na região do Carmo. “Quando chove, só me resta o ônibus. Se o tempo está bom, vou de bicicleta. Acaba sendo até mais rápido e assim me exercito. Sem falar que, pagando R$ 3,70 para ir e R$ 3,70 para voltar, no fim do mês o meu salário tem uma grande diminuição”, diz.

A atitude de ambos reflete o que já é comprovado por levantamentos. Um estudo da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU) mostrou que o número de usuários do transporte público na cidade caiu 8% em 2015, comparado ao ano anterior. Curitiba teve a maior queda entre os 16 municípios pesquisados, quase o dobro da média nacional de diminuição (-4,2%). Dados da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs) confirmam a tendência de recuo: de março e junho deste ano, os ônibus da capital transportaram uma média mensal de 827 mil passageiros a menos que no mesmo período de 2015.

Por conta da defasagem entre a projeção de passageiros, feita pela Urbs, e o número realizado, inferior à expectativa, os empresários do transporte coletivo da capital ameaçam não honrar com o pagamento do 13º salário dos funcionários e temem paralisações do serviço, como já ocorreu em 2014 e 2015.

Empresas alegam baita “preju”

Foto: Ricardo Pereira
Paulo é adepto da bike há um bom tempo. Foto: Ricardo Pereira

Em nota, o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) alega que, pelo quinto mês consecutivo, a estimativa não se confirmou. Em julho, a Urbs havia projetado que 17.627.039 pessoas usariam o transporte público da capital, mas o número foi 8,23% menor, com 1.451.448 passageiros a menos. Segundo o Setransp, só no mês passado o prejuízo foi de R$ 5 milhões. De março a julho são 5.529.162 pessoas a menos utilizando o transporte público, de acordo com a entidade, que diz ter acumulado perdas superiores a R$ 19 milhões no período.

Como as receitas do sistema são calculadas por uma previsão do número de usuários, impactam na tarifa técnica (valor pago pela Urbs às empresas), que atualmente é de R$ 3,6653 por passageiro. Descontando 4% da Taxa de Administração e 2% de ISS (Imposto Sobre Serviço), as empresas alegam que recebem R$ 3,45 por pessoa. “Se as receitas são deficitárias, de nada vale argumentar que os recebimentos das empresas estão sendo pagos em dia, uma vez que são insuficientes”, argumenta o Setransp.

Urbs só faz reajustes anuais

Também por meio de nota, a Urbs diz não ter recebido qualquer comunicação oficial a respeito da situação financeira das empresas. Aguarda que as demandas sejam apresentadas, “com as devidas justificativas técnicas e jurídicas, para análise à luz dos contratos firmados em 2010”. A Urbs afirma também que as alterações ocorridas são sempre reajustadas no período subsequente. Neste caso, em 26 de fevereiro de 2017. Em resposta, o Setransp diz que protocolou junto à Urbs, em julho, um ofício solicitando medidas para resolver tal situação e que a empresa tem conhecimento das alegações.

Novela de longa data

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Foto: Arquivo

Não é de hoje que os impasses entre as partes envolvidas no transporte coletivo trazem a iminência de prejuízo à população. Greves e paralisações são parte do cotidiano de quem depende do transporte. Para o professor da PUCPR e especialista em urbanismo, Carlos Hardt, dois fatores pesaram na queda de usuários. “Há cerca de oito anos, tínhamos uma política nacional voltada à questão do carro próprio. Se tornou muito fácil adquirir um veículo. O aumento da frota foi explosivo e, por consequência, as pessoas deixaram de usar o transporte público”. Há, ainda, outro motivo, mais recente: a crise econômica. “Agora, as pessoas perderam seus empregos e, por isso, acabam se locomovendo menos. São dois fatores contraditórios entre si, mas que tem a mesma consequência”, explica.

Tais fenômenos podem explicar o problema da projeção. “A Urbs precisa tomar cuidado com essas estimativas, pois ela pode acabar onerando o próprio usuário do sistema. Não pode exagerar, porque, assim, a sustentabilidade econômica entra em colapso. Por outro lado, é previsível que as empresas queiram se utilizar de números muito mais pessimistas do que otimistas. Dessa maneira, não se confirmando uma queda tão expressiva, haveria um ganho adicional para os empresários. Eu não estranharia essa postura”, pondera.

“É muito difícil que as empresas venham registrando prejuízo atrás de prejuízo há cinco anos, como relatam. Nenhuma empresa se sustentaria. Creio que, na verdade, a expressão certa seja ‘diminuição de receita’ em relação ao estimado. Mas, se fosse verdade, já teriam requerido uma renegociação de contrato”, opina.

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