Entre as cidades históricas de Ouro Preto e Ouro Branco, no sudeste de Minas Gerais, esconde-se um lugar único, de belezas naturais e riqueza histórica singulares.
A Serra de Itatiaia, localizada logo no início da Serra do Espinhaço, revela uma natureza intocada, onde as matas, cortadas por rios encachoeirados, revelam mistérios e enigmas de um Brasil marcado pela exploração aurífera e pelos caminhos abertos por seus desbravadores.
Cachoeira em meio à serra convida a um banho em suas piscinas naturais. |
Um lugar onde a paisagem característica é formada por montanhas permeadas de rochas que, ao sol, brilham como prata. Onde a pressa dá lugar à contemplação e os ruídos, ao silêncio.
A comunidade que se formou em frente à serra e que dá nome ao local (Itatiaia é um distrito da pequena Ouro Branco, distante dela 12 quilômetros, e a 20 de Ouro Preto) é resquício de um antigo arraial que servia de estrutura e suporte aos viajantes do século XVIII.
Um dos vilarejos mais antigos das Minas Gerais, que conserva riquezas arquitetônicas do barroco, como a Igreja de Santo Antônio, localizada bem no centrinho da comunidade.
Ninguém sabe ao certo em que ano foi construída, porém, dela existem documentos que datam de 1714. Dizem ser o templo um dos mais antigos de Minas Gerais.
Igreja de Santo Antônio, no vilarejo que dá nome à serra, é uma das mais antigas de Minas Gerais. |
Ali, a simplicidade do povoado se conservou. No entanto, Itatiaia é cada vez mais visitada por moradores de grandes cidades, que descobriram na tranquilidade da serra o lugar ideal para almoçar, passar um domingo ou dispor de alguns dias para praticar ecoturismo, percorrendo as trilhas da região. Rios empedrados, construções centenárias, causos, lendas e a culinária mineira fazem parte das atratividades desse lugar cravado nas montanhas.
A partir de vários pontos do vilarejo é possível avistar, em meio à serra, a queda d’água que leva o nome da localidade. Imponente, em seus 70 metros de altura, a Cachoeira de Itatiaia possui fácil acesso, formando piscinas naturais que são convidativas a um banho sob o sol escaldante dos meses de calor.
Inunde-se da simplicidade do povoado local
Quem percorre a trilha da Canela de Ema passa por este antigo moinho. |
Uma peculiaridade de Itatiaia é ser cortada pelo Caminho Novo, um dos que davam acesso à metrópole para escoamento dos minérios vindos das regiões produtoras de ouro (veja quadro com histórico da região na página 6).
O Caminho Novo, assim como outros caminhos oficiais da Coroa Portuguesa, era também conhecido como uma das rotas das Estradas Reais. Por conta disso, ao longo da via que conduz até a localidade, trechos da via podem ser observados, inclusive com suas pontes históricas.
Pontes do Calixto (acima) e da Caveira (abaixo) são algumas das que podem ser visitadas seguindo o leito da Estrada da Corte. |
A estrada de Ouro Preto até o vilarejo, aliás, dá origem a um passeio único. A MG-129, atualmente, asfaltada, é considerada uma das vias mais belas do País, em suas curvas que revelam montes lajeados.
O olhar paira sobre eles, mas a estrada pede cuidado, já que é sinuosa e não tem acostamento. A vantagem, porém, é que o tráfego é restrito a carros e pequenos caminhões, o que torna a viagem mais tranquila.
Já próximo ao vilarejo, o rio que forma a Cachoeira de Itatiaia corta um pouco antes da queda a antiga Ponte do Calixto, na garganta da serra. Esta é uma das pontes que podem ser visitadas seguindo o leito da Estrada da Corte.
A via preserva ainda as pontes da Caveira, do Falcão, o conjunto de pontes da Rancharia e muros de contenção do século XIX, erguidos para permitir a passagem da estrada em trechos mais acidentados.
Além desses exemplos arquitetônicos, em Itatiaia também podem ser encontrados a casa paroquial (hoje em ruínas e à espera de restauro); a casa da biblioteca comunitária, de 1773; e um antigo moinho localizado às margens do Rio Garcia.
O turismólogo Rodrigo Meira, pró-reitor de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), explica que o turismo em Itatiaia, embora incipiente, tem a referência da base comunitária, já que seu desenvolvimento está sendo pensado pelos próprios moradores locais e em conformidade com suas necessidades.
“Esse é o ponto de partida para o estabelecimento de políticas públicas responsáveis do ponto de vista sócio-ambiental”, destaca. É por isso que quem visita Itatiaia tem a oportunidade de estabelecer uma relação mais próxima com os costumes locais e vivenciar uma hospitalidade autêntica.
Ainda são poucas as opções de hospedagem na comunidade, mas o visitante conta com casas e alguns chalés dos próprios moradores, além de guias de turismo locais, como Eduardo José da Silva, que conhece como poucos as trilhas da região.
O guia é também um exímio construtor: mantém a tradição erguendo casas que seguem à risca técnicas antigas utilizadas nos casarios da região, como o pau-a-pique.
Fôlego para subir morros
Fotos: divulgação |
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Do alto da serra pode-se avistar os campos ondulados da região. |
Percorrer os caminhos da região é digno de quem tem fôlego. Partindo do núcleo urbano, é possível seguir por algumas trilhas, como a que dá acesso à serra, com sua bela cachoeira; a da Canela de Ema; e a do Bico de Pedra.
A primeira tem grau de dificuldade mais elevado, porém, é a que proporciona a melhor vista do lugar. Por ela, passa-se pelo subdistrito de Ouro Preto de Chapada e caminha-se até o pico da montanha.
Quem percorre essa trilha vai bem acima da Cachoeira de Itatiaia e, de lá, avista todo o vilarejo, uma represa que fica nas proximidades e a paisagem montanhosa típica do sul de Minas.
Já a trilha da Canela de Ema, relativamente fácil, estende-se por uma região de transição de cerrado com mata atlântica. Mais doses de paisagem. O caminho passa ainda por um antigo moinho e, ao longo do trajeto, podem ser observados os muros de contenção que delimitavam a antiga Estrada da Corte (veja quadro com histórico da região na página 6).
Por último, a trilha do Bico de Pedra passa por pequenos rios com cachoeiras. Nela, há pontos de parada de onde é possível observar, além dos campos ondulados, o antigo leito da Estrada da Corte, que foi abandonado antes mesmo de sua construção ser finalizada.
Uma curiosidade: este trecho tem pontes no estilo arco pleno que nunca foram utilizadas. Exemplo do desperdício de dinheiro público que remonta ao período colonial.